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ReOriente-se: O Continente Asiático em Foco

          O economista e sociólogo alemão André Gunder Frank (1929-2005) no livro ReOrient: Global economy in the Asian Age formula uma crítica ao eurocentrismo presente nas análises sobre economia e política internacionais. A visão eurocêntrica, além de negligenciar grande parte da história política-econômica da humanidade, especialmente a asiática, distorce a experiência do próprio “Ocidente”, impedindo uma apreensão de fato global da realidade.


A ideia de uma “hegemonia europeia” ou “ocidental” é normalmente o pressuposto indiscutível da maioria dos esforços de análise do sistema internacional ignorando que as bases da história moderna foram moldadas por uma economia global que já funcionava muito tempo antes da suposta expansão do sistema europeu a partir das chamadas Grandes Navegações. O dinamismo econômico mundial a partir do século XV, por exemplo, foi iniciado na Ásia e impulsionou um acelerado crescimento populacional, produtivo e comercial por três séculos naquele continente. Com efeito, seria muito difícil para regiões ou países tão pequenos e com estruturas econômicas feudais tão frágeis como a Península Ibérica (século XVI), os Países Baixos (século XVII) ou a Grã-Bretanha (século XVIII) exercerem qualquer liderança político-econômica significativa num cenário internacional há muito protagonizado pelos Estados orientais, como os impérios Qing/Ming (China), Mughal (Índia), Otomanos e Safávidas (persas). Em 1750, a Ásia concentrava 66% da população e produzia 80% da riqueza mundial, enquanto a Europa, com 20% da população, produzia menos dos 20% restantes.

A partir de 1800, o jogo virou; além da ascensão demográfica verificada entre 1750 e 1850 no continente europeu e do crescimento das taxas de produtividade do período, Gunder Frank sugere que “a posição desvantajosa da Europa na economia mundial foi parcialmente compensada por seu acesso privilegiado ao dinheiro da América. Do lado da demanda, o uso de seu dinheiro americano – e só isso – permitiu aos europeus entrarem e logo incrementarem sua quota de participação no mercado mundial, cujos centros dinâmicos estavam na Ásia”. Ele acredita também que a China teria entrado numa “armadilha de um equilíbrio a alto nível”, como avaliou o economista Mark Elvin: a oferta e a demanda estavam bem equilibradas e os métodos de produção e redes de comércio existentes eram tão eficientes e a força de trabalho era tão barata que o investimento em capital para melhorar a eficiência não seria lucrativo. No final do século XIX, passou-se a projetar a ideia de que a Europa sempre esteve no centro das relações internacionais. Em seu A riqueza das nações, de 1776, Adam Smith disse “a China é um país muito mais rico do que qualquer região da Europa, e a diferença de preço dos gêneros alimentícios, na China e na Europa, é muito grande”. Cerca de cem anos depois, os europeus, imbuídos da mentalidade neocolonial de “fardo do homem branco” e objetivando criar um novo universalismo com base em sua pujança econômica, passaram literalmente a reescrever seu papel histórico no sistema internacional.

Gunder Frank avalia o crescimento ocidental e o refluxo oriental em ciclos e defende que, no século XXI, a tendência seria uma recentralização do sistema mundial na Ásia em torno da liderança chinesa: “o sistema/economia mundial globalmente abarcador não tem um único centro, e sim bem mais uma hierarquia de centros, provavelmente com a China à frente”. Os acontecimentos político-econômicos dos últimos tempos dão cada vez mais razão ao trabalho de Gunder Frank.

Fim da primeira parte.

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